sexta-feira, 18 de julho de 2025

HOJE É DIA LIVRO!

 

Relatos de um náufrago

Autor: Luís Alexandre Velasco Gabriel Garcia Marques





Em 28 de fevereiro de 1955, oito tripulantes do destróier Caldas, da Marinha da Colômbia, caíram na água e desapareceram durante uma tormenta no Mar do Caribe. Apenas um deles sobreviveu, Luís Alexandre Velasco, que, após passar dez dias à deriva, foi encontrado semimorto numa praia deserta do norte da Colômbia.

(descrição da orelha do livro, publicada pela editora Record)


Quis colocar esse trecho ispis litteri no início do texto, porque se for pra resumir a história, ela é exatamente isso. A gente lê já sabendo o enredo, o que vai acontecer, o como, as duas versões do como, aliás; e, para desespero dos que odeiam spoiler, já sabemos o fim.

Eu tenho toda uma reflexão sobre a questão de spoilers e saber o final de livros, filmes ou qualquer outra forma de apresentar uma história, mas vou deixar a versão estendida para outra hora.

A versão curta é que eu não me importo com eles. E não me importo porque entendo que ao contar uma história, tão importante quanto saber o que aconteceu, é acompanhar como aconteceu.

E o como aconteceu, é um relato angustiante.

Ilustração do El Espectador sobre o náufrago que sobreviveu ao ARC Caldas| Foto: Reprodução/El Espectador

“Tentei remar, mas continuava sendo inútil, como na primeira vez. Fiz um último esforço para que Luís Rengifo alcançasse o remo, mas a mão levantada, a mesma que, poucos minutos antes, tentara evitar que os fones afundassem, desapareceu naquele momento para sempre, a menos de dois metros do remo...”
(página 39)

O livro é muito fino, inclusive me espantei quando ele chegou em minhas mãos, apenas 143 páginas.

O epílogo é todo obra do Gabo, basicamente ele relata os fatos históricos pré e pós desastre. O que foi oficialmente noticiado nos jornais na época, e também, o que lhe foi contado por outros marinheiros que estavam no navio.

Como que adivinhando o que nós leitores iríamos sentir após a leitura, também nos conta o que aconteceu com Velasco após a publicação das reportagens no jornal El Espectador, onde Gabriel trabalhava, e após a compilação delas, em livro.

Como disse, o curativo é arrancado logo de início, sendo assim o que nos resta?

Nos resta a angústia do seu relato ao ver seus amigos morrerem afogados.

Nos restam a perda da noção do tempo, da distância, a perda de si mesmo, de quem se é, o relato de alguém tentando sobreviver a dez dias de fome, que lhe leva a tentar comer uma gaivota e disputar um peixe com um tubarão, dez dias de sede que o fizeram beber água do mar.

Resta o dilema de lutar até o fim pela sobrevivência e quando seria o momento certo de desistir e resolver se amarrar ao bote para que ao menos conseguissem encontrar seu corpo à deriva.

A alucinação com um companheiro morto, mas que parecia incentivá-lo a viver. Ainda que passasse o resto da vida ouvindo suas últimas palavras. – Reme para cá, gordo!

Para mim o momento mais aflitivo, é enquanto ele narra os últimos momentos no Caldas e vai fazendo isso hora a hora. Em dado momento ele diz faltar apenas duas horas para chegar no porto. E juro que mesmo sabendo o desenrolar, me peguei torcendo para que as ondas não os atingissem e eles chegassem a salvo em casa. Como se eu assistisse a um filme ou uma série.

Assisti há muitos anos o filme Naúfrago com Tom Hanks, é também triste em muitos momentos, angustiante, mas nem se compara assistir uma ficção e ler algo que aconteceu de verdade, com uma pessoa de verdade.

Enquanto lia, e depois debatendo com meu grupo de leitura, ficava me perguntando o quanto eu aguentaria, se teria sobrevivido, se teria desistido já no primeiro dia. Lendo o livro, a gente percebe que sobreviver, como náufrago ou na vida, depende de um psicológico forte e às vezes um pouquinho de sorte também.

O legal dessa obra é que ela tem duas histórias, a do naufrágio e do livro propriamente dito. No título dessa resenha fiz uma brincadeira escrevendo o nome do Luís Alexandre riscado e depois o do Gabo.

Ainda no fim do epílogo o escritor, o conhecido, expressa seu desgosto por não poder botar Luís como coautor do texto porque isso não interessava aos editores, eles queriam apenas o nome do escritor da moda.


“Era tão minucioso e apaixonante, que meu único problema literário seria conseguir que o leitor acreditasse nele. Não foi só por isso, mas também porque nos pareceu justo, que resolvemos escrevê-lo em primeira pessoa e assinado por ele. Esta é, na realidade, a primeira vez que meu nome aparece vinculado a este texto.”


No ano de publicação de Relatos de um náufrago, Gabriel deu instruções à editora que pagasse à Luís os direitos do livro na integra por quatorze anos.

Fui pesquisar um pouco sobre e descobri que até pouco tempo a família ainda lutava na justiça para obter o lucro das vendas dos livros com a história do seu familiar.

O próprio náufrago, influenciado por advogados e pessoas que claramente queriam lucrar um pouco com a polêmica, tentou à época, uma vitória judicial alegando que sem ele não haveria história. O veredito foi que, ao vender seu relato para o El Espectador, ele perdeu qualquer direito de publicação.

Após vencer a batalha judicial, Gabriel García Marques resolve destinar, desde então, os lucros pela venda do livro a uma fundação que eu não consegui encontrar o nome.

O que vocês acham sobre isso?

Capa do El Espectador Reprodução/El Espectador

Por fim, mas não menos importante, aos que prezam por não contar as reviravoltas de uma história, a história oficial contada pela Marinha Colombiana sobre o desastre e o que realmente aconteceu, são totalmente diferentes, e para deixar um gostinho pela leitura, vou deixar vocês descobrirem lendo Relato de um Náufrago.

Avaliação: vou usar luas dessa vez 🌕🌕🌕🌗

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